Uma viagem por Sacromonte, Granada

Não é verdade que a tranquilidade idílica esteja reservada à vida no campo, ou às terras e vilas do interior. Visite Granada e veja como pode escapar para um refúgio de sossego em pleno centro da cidade.

Erigida sobre os bairros mais vibrantes e vívidos, encontrará maravilhas em Sacromonte como a ancestral abadia construída por cima de catacumbas. E no pacote turístico que vos propomos, há vários percursos de encher o olho, vistas que se imprimem na retina e na memória. Acompanhe-nos portanto nesta viagem de exploração por Sacromonte.

Camino del Sacromonte

Granada Romântica

Uma fuga romântica por Espanha nunca estará completa se não passou por Granada. A Andaluzia tem inúmeras atracções, mas Granada poder-se-ia chamara a Paris de Espanha, cidade romântica por excelência. E não se trata apenas das atracções mais imediatas, como o mágico Palácio de Alhambra, é toda uma atmosfera que vale a pena conhecer.

O tempo de que dispuser a passear com o seu parceiro/a pelas ruas estreitas de Sacromonte, ouvindo aqui e além as investidas nas cordas de guitarras vadias, e o sol carismático das estações que aquece em grande parte do ano, engrandece o coração e as ideias dos turistas românticos e certamente acrescentará muito à sua experiência enquanto visite a cidade.

museo

Visite tudo de autocarro

Fique em Granada ou opte apenas por visitar Sacromonte, durante um dia preenchido, há percursos de autocarro que deve conhecer para tirar o máximo proveito da sua viagem. Comece pela Plaza Nueva e apanhe o pequeno autocarro vermelho C2 até chegar ao extremo da cidade, onde fica a Abadia de Sacromonte. O bilhete custa apenas 1,20€ por pessoa. (Tenha em atenção que o autocarro C1 não percorre toda a cidade, apesar de cobrir a zona de Albaicín. Aproveite portanto esta pequena volta no C1 para olhar a paisagem e tomar nota do que gostaria de ver com mais atenção quando fizer novamente a viagem para trás.)

Abadia de Sacromonte

Fundada nos primeiros anos de 1600, a abadia foi originalmente construída sobre uma mina romana. Os guias turísticos referem os famosos livros de chumbo, que foram desenvolvidos como instrumentos de estudo nesta abadia, e a curiosidade é mais que muita se houverem mais segredos destes por descobrir dentro e fora do edifício. Em certos dias, pode juntar-se a visitas guiadas por 4€ a entrada. Têm começo às 11 da manhã, são dadas em Espanhol e não são permitidas fotografias. 

Chegámos à abadia mesmo a tempo, no exacto momento em que os sinos tocavam as 11 horas e ressoavam por todo o vale. Ao entrar pelas largas portadas fomos encaminhados para os claustros onde estavam uns bancos de madeira trabalhada e só se ouvia o som do gotejar de água e dos pássaros lá fora. Um pequeno grupo juntou-se a nós enquanto o sol matinal principiava a roubar as sombras, e depois de alguns minutos a guia fez sinal para que a acompanhássemos ao primeiro quarto da visita. Mostrou-nos as várias divisões, com curiosos objectos relacionados com a prática religiosa e de arte sacra:

Quarto 1 – Aqui podíamos observar reproduções fiéis dos famosos livros de chumbo, com traduções dos seus textos.

Quarto 2 – Tapetes belgas, decretos reais e do papado, pinturas de vários bispos, davam a entender as relações de multiculturalidade e além-fronteiras que se forjavam a partir da abadia.

Quarto 3 – Mantos eclesiásticos, objectos maciços de ouro de cerimónia religiosa, e retratos vários, incluindo a pintura “La Vorgen de la Rosa”, de Gerard David, denotam a riqueza envolvida nas actividades deste espaço.

Quarto 4 – Diversos livros, incluindo um que é pelo menos milenar, e um Goya original intitulado “Francisco Saavedra”, mostram sem sombra de dúvidas da influência cultural que se exercia a partir da abadia. Como curiosidade, diga-se que esta pintura foi roubada nos anos 1980, assim como outros objectos de elevado valor, mas em 1991 seria recuperada para que possa ser vista no contexto original aonde foi produzida.

Abbey

Catacumbas

Seguimos para debaixo do chão, para as catacumbas que foram escavadas sob a abadia: os livros de chumbo foram descobertos nesta área. Primeiro passámos pela capela de San Cecílio, onde se celebra anualmente uma tradicional romaria que acontece no primeiro domingo de Fevereiro.

Admirámos a ostensividade das peças de ouro no altar, assim como as figuras de santos e apóstolos magnificamente esculpidos. A guia apontou igualmente para um símbolo que, com a mesma atitude de espírito analítico e de atenção ao detalhe com que nos fez reparar nos bancos de madeira ou no silêncio particular daquela abadia (há vários tipos de silencio se se predispuserem a ouvi-lo, e o desta abadia é de facto especial), que fazia lembrar a Estrela de David mas que na verdade seria representação do Selo de Salomão. Ambos facilmente confundíveis, a diferença está em que na Estrela de David os triângulos tocam-se, e no Selo de Salomão eles entrelaçam-se. A partir de agora nunca mais nos esqueceremos! 

As catacumbas continham ainda relíquias de vários santos do século XVII, incluindo os fornos onde, de uma forma um pouco macabra, eles eram incinerados por motivações religiosas. Também existem ali pequenas capelas (conhecidas originalmente por Capillas) que pudemos ver antes de se voltar à intensa luz do dia. A visita guiada durou cerca de uma hora. 

Catacomb gate

Descida pela encosta

Antes do regresso pela encosta abaixo, parámos um instante para sorver as vistas a partir daquele ponto alto – são soberbas e servem de consolo ao facto de não termos podido tirar fotografias do lado de dentro da abadia. Dali a atitude é de admiração face à cidade estendendo-se abaixo de nós, com o Palácio de Alhambra e os jardins de Generalife do lado esquerdo e Albaicín à direita. 

Veja com particular atenção as comunidades nómadas e ciganas que montam abrigo na encosta do outro lado, é especialmente interessante que algumas das grutas naturais estejam também ocupadas. Finalmente descemos, ao longo do percurso arborizado, em direcção a Sacromonte, e passando por uma comunidade cigana de Granada. 

View from Sacromonte

Vida cigana

As primeiras habitações que vai encontrar no caminho de regresso estão intensamente decoradas, é portanto difícil deixar de olhar e até de tirar fotografias. Tem de medir contudo a sua ousadia, já que um patriarca da família poderá facilmente estar sentado do lado de fora a descascar languidamente uma maçã e observando de volta a vida que passa (e os turistas que passam, também). 

Toda aquela área é actualmente habitada por uma diversidade grande de gente, apesar de ser uma das zonas tradicionais dos “Gitanos” (ciganos) de Granada. Casas cuidadosamente decoradas, pequenos restaurantes e cafés, e imensas lojas turísticas de souvenirs ajudam a um clima tranquilo e de bastante interesse entre turistas. Existe ainda um fantástico Museu Etnológico da Mulher Cigana que deve visitar obrigatoriamente visitar para conhecer melhor esta população que é ainda alvo de injustos preconceitos. 

Gitano house

Flamenco

Existem sinais de música em todos os recantos por onde se vire em Sacromonte. A Andaluzia em geral é, aliás, profícua em acontecimentos culturais nas ruas. Procure ainda pelas oficinas Luthier – onde se fabricam guitarras – e abra os ouvidos para os sinais de música e de sons que parecem deixar Sacromonte num constante concerto aberto. Uma guitarra dependurada num porta, as castanholhas a decorar janelas, veja bem como a música de imiscui na vida da cidade. Certamente que dará por si a bater o pé, desejando voltar novamente a Sacromonte e às vistas e ao património material e humano de Granada.