Desfrutar de xerez tem muito mais que se lhe diga do que visitar aqui e ali umas tascas típicas – podia-se até argumentar que frequentar tais sítios em grupo, numa excursão turística que garanta o ambiente controlado e sapiente, é mesmo infrutífero se o objectivo é apreciar verdadeiramente estes vinhos fortificados e tão típicos do sul de Espanha. Então se estamos a falar de uma área como a província de Cádis, que forma um triângulo entre as cidades costeiras de Sanlucar de Barrameda, El Puerto de Santa Maria e a auto-denominada “capital do xerez”, Jerez de la Frontera, percebemos que há uma arte de beber este líquido divino. O estereótipo do xerez enquanto bebida alcoólica de velhinhas é para abandonar imediatamente – o vinho que se bebe nas tasquinhas locais é apreciado por todos, desde os aficionados gourmet aos empregados de escritório que aqui fazem uma pausa –, é só frequentar e ver com os próprios olhos como os bares com um design de autor ou as pequenas tasquinhas empoeiradas oferecem sempre atmosferas únicas para inalar o perfume das uvas palomina ou Pedro Jiménez. Além do vinho, pode-se encontrar um pouco por toda a região alguns dos melhores bares de tapas e restaurantes de peixe fresco de Espanha. Mas comecemos por Jerez!
El Pasaje
Nunca foram a um bar de xerez se nunca estiverem num Tabanco – este termo surge de uma mistura entre “estanco” (que significa uma loja controlada pelo Estado) e “tabaco” (o doce vício que se tornou popular ao mesmo tempo que os estabelecimentos estatais de venda de xerez, no século XVII – diga-se a título de curiosidade que hoje apenas se encontram um punhado de sítios como este em actividade, embora algumas lojas vão abrindo e animando a tradição.) El Pasage é, contudo, um marco absoluto, uma instituição para os beberiques de xerez, absolutamente distinto com as suas paredes pintadas de verde-hortelã e cobertas de caricaturas de personalidades do flamenco, incluindo a figura do próprio José Merce. Aqui, também se encontram algumas tapas que acompanham muito bem o vinho e as performances ao vivo de flamenco.
Calle Santa María, 8.
El Tapial
Existe um bar relativamente novo próximo da Plaza Arenal, a principal praça de Jerez, de nome: El Tapial. Quem ainda não foi espreitar os seus encantos, não sabe o que perde. Autodenominando-se como uma “oficina de tapas”, este é o tipo de bar que expulsa todos os estereótipos associados às tapas pela porta fora. A comida é sempre uma experiência verdadeiramente inovadora, que emerge de uma cozinha requintada e de acesso aberto; já os visitantes que não podem esperar para sentar têm à sua disposição um espaço intimista e bem iluminado com um pequeno terraço que dá para exterior. As especialidades incluem espetos de lagostim e patê de jamón, mas o menu é renovado com regularidade. Imperdível também é sentar junto dos locais que são frequentadores habituais e participar de um banquete em comunidade.
Calle San Agustin, 24.
El Gallo Azul
Esta pérola deve muito à sua localização – ocupa o piso térreo de um edifício emblemático facilmente reconhecível pela sua forma em semi-círculo, o Gallo Azul em Jerez. Há um restaurante no andar superior e quase nenhum espaço circulável no bar, mas o terraço exterior é enorme e com boa sombra. Gallo Azul, talvez o melhor lugar em toda a cidade para observar o corrupio das ruas lá fora, tem à disposição uma boa variedade de vinhos locais e uma elegante e sofisticada oferta de tapas.
Calle Larga, 2.
Tabanco San Pablo
San Pablo distingue-se de outros tabancos pela sua cozinha. Neste espaço eventuais modéstias não têm lugar: dizem eles que servem a melhor tortilha de batatas de toda a Andaluzia, sendo que a cozinheira-chefe tem usado o mesmo garfo há mais de 20 anos, o que lhe confere a identidade rara de que tanto se orgulham. Os chicharrones (bocados de barriga de porco) são também famosos. A rua de San Pablo está repleta de bares e geralmente sente-se um clima de festa que qualquer visitante achará precioso, em particular se se passar por ali aos fins-de-semana. Sendo este um tabanco, pode-se contar com interiores cavernosos e efeitados com enormes barris rústicos de xerez.
Calle San Pablo, 12.
Taberna Der Guerrita
Encostado numa zona modesta de Sanlucar de Barrameda, a mais pequena das três cidades que compõem o triângulo do xerez, Armando Guerra gere um pequeno império de xerez que rivaliza com os melhores de Jerez. Além de um restaurante e eventos regulares de degustação de vinhos, Armando faz magia com o seu Der Guerrita – um fantástico bar de xerez especializado nos vinhos de Manzanilla, de cujas uvas brotam directamente daquela terra, mas também oferece uma variedade inestimável de amontillados, palos cortados, entre outros vinhos. Isto é muito mais do que normalmente se encontra à disposição do cliente, mesmo estando na capital do xerez. Imperdível.
Esquina da Calle San Salvador com Calle Rubiños.
Casa Balbino
Na Plaza del Cabildo, uma das praças mais bonitas da Andaluzia, o terraço de Balbino enche-se de famílias e turistas. Os empregados em frenético movimento podem ser enganadores, porque ao invés de trazerem as fabulosas iguarias ocupam-se das arrumações e limpezas, já que este bar tem um dos conceitos mais raros neste cantinho do mundo: tudo é self-service. É impossível dizer como conseguem eles manter o controlo sob todas as solicitações, com os pratos a chegarem às bancadas do bar em sequência imparável e os clientes colaborando como podem para identificar os seus pedidos. Fica-se assim com uma noção do trabalho imenso que um empregado espanhol pode ter neste bar louco, e acima de tudo abrimos a boca de espanto por tudo funcionar às mil maravilhas. Do mar, que fica apenas a uns metros de distância, emerge o peixe fresco também pode experimentar nas incríveis espetadas.
Plaza del Cabildo, 14.
Bodegas Obregón
Obregón é o bar mais antigo de El Puerto de Santa Maria, e a melhor forma de o descrever é falar numa grande barrica de vinho com assentos lá dentro – o também conhecido por despacho de vinos. Aqui, os clientes podem desfrutar de uma variedade de vinhos artesanais ou de cunho local, bebidos tanto a copo como comprando a garrafa inteira. Não existem mesas nem cadeiras, apenas uns apoios para fazer a degustação de pé enquanto contempla a vida em volta, pulsando num cenário que é a quintessência da Andaluzia: barris, reminiscências da tauromaquia, homens com barriga de cerveja com uma certa idade. Tudo pitoresco e maravilhoso.
Calle Zarza, 51.
La Dorada
Através da água, por onde o ferry vai deixando Cádis para trás, La Dorada é o que resta de uma intervenção empresarial a larga escala. Visto de fora, pode-se perguntar por que é que alguém havia de recomendar tal lugar – o apelo é pouco, apenas uma confusão de mesas sob um toldo. No entanto, os clientes que por ali passam estão longe de ser o típico turista, é que este é um local onde os moradores das redondezas vêm para comer peixe bom e barato – uma combinação preço/qualidade indiscutível. O marrajo, ou barbatana de tubarão, é divinal.
Avenida de la Bajamar, 26.
El Romerijo
Uma lenda do El Purto de Santa Maria, El Romerijo é daqueles sítios que só vistos com os próprios olhos é que se acredita. Com duas lojas de cada lado da rua – uma é chamada de freiduria, o sítio onde se serve peixe frito; a outra é conhecida por cocedero, onde se coze a vapor ou de forma tradicional o marisco –, é só chegar e sentar, apesar dos preços poderem não ser para qualquer bolso. A melhor maneira de tirar proveito deste lugar é ir para um canto no balcão, tirar um cone de papel para encher com iguarias à escolha, e depois escolher um lugar onde sentar e pedir as bebidas. Existem pequenos caixotes de plástico onde se depositam as cascas que forem sobrando da refeição.
Plaza de la Herrería, 1.
Casa Manteca
Este bar de Cádis tem lugar na nossa lista porque, embora não conste no triângulo do xerez, fica numa cidade maravilhosa a apenas uns minutos de ferry a partir de El Puerto de Santa Maria. E se há um bar que não se pode de facto perder neste canto do mundo, esse é a Casa Manteca na vizinhança do bairo La Viña. Um bar de esquina com duas salas, ambas incrivelmente lotadas na maioria das vezes, aqui se servem iguarias de carne de porco em toda a sua glória. A especialidade são os chicharrones – carne de porco massajada com molho de limão. Do bar sai-se para a rua onde, no início da primavera, se podem comprar ouriços-do-mar abertos e preparados para um momento de requinte e preciosidade.
Calle Corralon de los Carros, 66.
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